sábado, 30 de maio de 2009

A vaca sagrada: Ocidente x Oriente -



As cidades indianas tem crescido muito e as vacas passaram a ser um problema mais do que visível, que nem mesmo o divino touro Nhandi poderá resolver.

Uma das queixas mais recorrentes é que elas, em busca de alimento, espalham o lixo, rasgando os sacos. A segunda é a de que vem trazendo grande perigo para o tráfego nas grandes cidades.

Tentando reduzir a população de vacas em Nova Delhi, o governo vem contratado homens, que possuem a incumbência de capturar e transportar as divinas, para bem distante das fronteiras da cidade, onde são cuidadas. Mesmo isso não tem sido fácil, pois ao ouvirem o som do caminhão, saem em debandada pelas ruas e, sem falar na oposição do povo hindu.

Segundo a visão ocidental, a Índia só abandonará as suas superstições religiosas, no dia em que matar e comer uma vaca. Acha um paradoxo a adoração à vaca, enquanto milhares de indianos morrem de fome. Questão difícil de ser resolvida, pois nem mesmo os 200 anos de domínio britânico mudaram alguma coisa na visão desse povo, em relação à vaca sagrada. Por isso, a proteção à vaca tem sido chamada de “lunático entrave” para a gestão das explorações sensatas, segundo a visão dos economistas ocidentais.

O mundo ocidental acha um absurdo não aproveitar, para comer, as vacas doentes ou idosas. No entanto, a Índia gasta muito menos com o envelhecimento de seu gado, do que os estadunidenses com seus gatos e cães.

Ao ouvir loas sobre a civilização ocidental, certo estadista indiano respondeu:

- Parece ser uma boa idéia. Quando será que os ocidentais vão começar?

O agricultor indiano vê o gado como parte da família, uma vez que dele depende para sua própria subsistência. Por isso, faz todo sentido, quer economicamente e emocionalmente, lutar pelo seu bem-estar. Quase toda família rural indiana possui, no mínimo, uma vaca leiteira.

A Índia possui a maior concentração de gado do mundo, assim como é o segundo produtor mundial de leite.

É interessante notar que os principais problemas de saúde na Índia são, na verdade, resultantes da superlotação urbana, saneamento inadequado e das dificuldades de atendimento médico. Enquanto no Ocidente a hipertensão arterial, doenças cardíacas, artrite e câncer constituem as maiores ameaças para a saúde.

Os Vedas (livro sagrado do hinduísmo) concordam com a alegação ocidental de que o homem tem domínio sobre os animais. No entanto, não aceita o modo como o ocidente lida com seus dependentes animais. Alegam que temos domínio sobre as nossas crianças e anciãos, mas que nem por isso justifica o fato de abatê-los.

Os Vedas não ensinam que a vaca é superior à forma humana de vida. Pelo contrário, é uma mãe a prestar favores à sociedade humana e, por isso, deve ser protegida. Sua assistência ao homem libera grande parte da humanidade da luta na vida, proporcionando-lhe mais tempo para a busca espiritual, sendo um erro pensar que os animais não possuem sentimentos.

Para a Índia, a vaca representa o princípio sagrado da maternidade, simbolizando a caridade e a generosidade, pelo jeito como distribui seu leite, que é essencial para a alimentação dos jovens e idosos.

Contudo, as nossas rainhas enfrentam sérias dificuldades. Uma delas é a subnutrição crônica em razão da falta regional e sazonal de forragem e água. Ficam com o sistema imunológico enfraquecido, tornando-se suscetíveis à infecção parasitária e outras doenças.

Um grande número de animais mal nutridos cria um potente meio de surtos de doenças infecciosas, que exigem vacinas caras, muitas vezes ineficazes, pela falta de refrigeração. Os ocidentais questionam se, a uma triste existência em semi-inanição, muitas vezes também doentes crônicos, sem assistência governamental, não seria mais humano o abate.

Ambientalistas preveem, que haverá um choque breve no território indiano, porque a massa de terra do país não pode sustentar o crescimento da população humana e animal, como vem acontecendo.

Gowshalas (refúgios para o gado) e pinjrapoles (refúgio para uma mais diversificada população animal) estão localizados em toda a Índia, sendo mantidos pelos impostos e doações de caridade da comunidade empresarial. Mesmo sabendo que o búfalo é de melhor qualidade na produção de leite do que a maioria das variedades de vacas, raramente é encontrado em gowshalas, porque é considerado impuro e não merecedor do mesmo respeito que as vacas.

Infelizmente, tais abrigos não podem absorver todos os bezerros, vacas e bois, uma vez que a população bovina está constantemente aumentando, pois a vaca deve ter um bezerro para produzir leite. Os danos ecológicos, produzidos por milhões de vacas leiteiras, está transformando algumas partes da Índia num deserto, desprovido de árvores e solo superficial.

Devido à oposição religiosa à eutanásia, mesmo morrendo de dor, esses animais não são submetidos a ela. Muitos ortodoxos hindus e jainistas opõem-se à morte de animais, por qualquer razão, pois pregam que é errado interferir, de alguma forma, com o carma ou o destino do outro. Hindus tem fundamentado que matar uma vaca doente é como matar a própria mãe, o que é impensável.

E assim, seguem as vacas sagradas na Índia.

Namastê!

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